Como seres sociais, lentamente entramos em uma espiral de normatividade para sermos aceitos. Afinal, o que é reconhecimento?
Naquele dia, ele terminou o trabalho mais cedo do que o normal e decidiu ir para casa a pé. Ela finalmente havia conseguido terminar o curso de direito com boas notas e estava fazendo um estágio no departamento jurídico de uma empresa multinacional. Ela estava muito orgulhosa de si mesma e gostava quando alguém lhe perguntava o que ela fazia para viver. Sua família também tinha muito orgulho dela e a fazia saber disso por meio de elogios e prêmios. Ela já havia recebido a promessa de um contrato permanente quando terminasse o estágio e tudo parecia estar indo bem.
Naquela tarde, porém, ela estava terrivelmente vazia. Por que me sinto infeliz quando já consegui tudo o que queria, ela se perguntou. Começou a repassar na cabeça as coisas de que "realmente" gostava e percebeu que nada disso estava relacionado ao que fazia naquela empresa.
Desde muito cedo, encontrar validação externa para tudo o que fazemos nos faz sentir seguros e também contribui para o desenvolvimento de nossa autoestima.
Portanto, no primeiro estágio, olhamos para nossos pais toda vez que aprendemos um novo truque, pintamos um quadro ou descobrimos algo que nos fascina. Pode ser cansativo para os pais olharem para os filhos toda vez que eles descobrem algo novo (especialmente porque tudo é novo e fascinante para eles). Entretanto, essa fase é fundamental para o desenvolvimento de um adulto saudável, confiante e com forte autoestima.
Após essa fase da infância, nosso círculo social se expande. Já não nos importamos tanto com o que nossos pais dizem, mas será o grupo de amigos que terá toda a nossa atenção. Nessa fase, faremos o que for preciso para sermos aceitos e obtermos a validação de nossos amigos e conhecidos.
Somos seres sociais e ser aceito, respeitado ou sentir-se parte de um grupo é uma de nossas necessidades básicas. Assim, gradualmente entramos no círculo vicioso do que significa se encaixar na norma. Estar entre os melhores alunos, ser aceito em uma boa universidade, conseguir um emprego em uma empresa de prestígio, casar-se, formar uma família, comprar uma casa? E assim por diante, ad infinitum.
A sociedade nos impõe inúmeras regras que temos de cumprir para nos adequarmos aos padrões e sermos aceitos. Você já se sentiu fracassado por não estar alcançando o que se espera de você? Como a garota do exemplo, ela já havia alcançado tudo o que se esperava dela, mas, ainda assim, sentia um vazio inexplicável. Isso acontece porque vivemos em um mundo em que precisamos atingir uma meta, alcançar os resultados que esperam de nós e somos levados a acreditar que, quando os alcançarmos, seremos completamente felizes.
Mas o que acontece quando descobrimos que essas metas foram impostas a nós? O que pode acontecer é percebermos isso logo no início e decidirmos levar uma vida única, longe de qualquer padrão normativo, independentemente de sermos aceitos ou não. Entretanto, outros podem passar por um período de insatisfação, frustração ou crise quando percebem que estão levando uma vida com a qual não estão alinhados.
Do meu ponto de vista, o primeiro passo seria descobrir qual é realmente a minha motivação. Perguntar a nós mesmos de onde vêm as decisões que tomamos nos ajudará a saber se estou ou não alinhado com meus valores ou desejos internos. Parece fácil, mas às vezes o poder limitado de tomar decisões vem disfarçado de liberdade. Achamos que, pelo fato de termos escolhas, somos livres, mas não é isso que é liberdade.
Basicamente, nossas ações decorrem de dois tipos de motivação: intrínseca e extrínseca (link para o blogspot que fala sobre isso). A motivação intrínseca é o que fazemos para nosso próprio prazer, satisfação pessoal, vocação ou diversão.
A obtenção de reconhecimento se enquadra na categoria de motivações extrínsecas. Esse reconhecimento pode assumir diferentes formas. Desde receber um comentário agradável sobre nosso trabalho ou uma simples curtida nas redes sociais, até receber uma promoção no trabalho ou um prêmio em uma competição. O que todas essas diferentes formas de reconhecimento têm em comum? O sentimento de satisfação que vem do fato de alguém de fora valorizar nossas ações.
É bom ser reconhecido por outras pessoas por um trabalho bem feito e é maravilhoso ganhar um prêmio em uma competição, mas e se não tivéssemos esse "prêmio"? Ficaríamos igualmente satisfeitos com um trabalho bem feito ou ficaríamos frustrados?
A resposta honesta a essa pergunta revelará até que ponto o reconhecimento externo é ou não importante para nós. Quando buscamos validação para tudo o que fazemos, a ponto de a opinião de outras pessoas poder mudar nosso dia, podemos estar escondendo uma falta de autoestima ou autoconfiança. Essa insegurança às vezes é acompanhada pelo medo do fracasso.
Às vezes, quando buscamos esse reconhecimento externo, é porque nós mesmos não valorizamos nosso trabalho. Precisamos dessa aprovação para ter certeza de que estamos fazendo o que é certo. Apesar de termos dedicado horas e horas a esse projeto, nossa opinião interna parece não ser suficiente. Você se sente familiarizado?
Bem, se você acha que essa situação é muito familiar, aqui estão algumas dicas sobre como começar a se valorizar:
Isso não quer dizer que reconhecer ou valorizar nossos colegas ou equipes não seja importante. De fato, sabemos que sentir-se valorizado dentro da empresa é considerado quase mais importante do que o salário, conforme confirmado por várias pesquisas [...]. Aprender a valorizar também os esforços dos colegas ajudará a criar ambientes de trabalho mais felizes e seguros. Uma das práticas que temos na Fuckup Inc é chamada de "Give a Fuck", um canal do Slack dedicado especificamente a reconhecer nossos colegas quando eles fazem algo digno de nota.
Porque reconhecer o bom trabalho é uma atividade muito agradável que ajuda os outros a perceberem seu próprio valor.
No final das contas, o reconhecimento mais valioso sempre virá de nós mesmos, e isso sempre dependerá de nossas próprias definições pessoais de sucesso, fracasso e felicidade.
Quer aprender a reconhecer seus colegas e funcionários além dos resultados que podem não ser alcançados? Como parte do The Failure Program, temos uma variedade de cursos on-line, workshops e eventos privados, além de uma pesquisa que diagnosticará como estão gerenciando o fracasso em sua empresa. Deixe-nos seus dados e vamos começar a colaborar para que o fracasso funcione para você.
Editado por
Ricardo Guerrero
Vamos transformar nossa percepção do fracasso e usá-lo como um catalisador para o crescimento.